Em um país em que a educação sexual é vista como política de gênero, não é difícil de entender porque tantas perguntas rondam a nossa cabeça quando o tema é saúde sexual. E um temas mais polêmicos sobre o uso de toys é: compartilhar, ou não compartilhar? Dividir um toy com outra pessoa é inseguro? Quais os limites pra isso?
Spoiler: O perigo não está nos sex toys em si, e sim em qualquer interação sexual sem barreiras e sem higiene. Em termos de risco, pênis sem camisinha é muito mais perigoso que um toy limpo — e a penetração anal é mais sensível pelo maior risco de fissuras. Mas vamos por partes ;)
Riscos por ato: o que é mais perigoso (sem barreira)
As evidências apontam que, sem camisinha, o maior risco de IST está na relação anal receptiva, seguida da relação vaginal. Sex toys limpos e/ou com barreira entram em categoria de baixo risco quando comparados a contato mucosa-mucosa desprotegido.
Escala prática (maior → menor)
- Pênis sem camisinha (anal > vaginal)
- Dedos sem luva trocando de orifício
- Sex toy compartilhado sem barreira/limpeza
- Sex toy com barreira + higienizado
Por que o ânus é mais sensível? A mucosa retal é fina e pouco lubrificada, com maior chance de microfissuras, facilitando a entrada de patógenos. Lubrificante + camisinha fazem enorme diferença.
O pior cenário com toys (na mesma sessão)
O mais arriscado é compartilhar o mesmo toy durante a mesma relação, sem lavar nem trocar a barreira entre pessoas — ou mudar de ânus → vagina sem troca completa. Aqui os fluidos estão frescos e a transferência é direta.
Muitos vírus morrem em ~24h (a secagem reduz viabilidade do HIV rapidamente), HSV (Herpes Simples) pode persistir por horas em plástico, já o HPV (Papilomavírus Humano) foi detectado em vibradores logo após o uso e até 24h (detecção ≠ vírus viável), e HBV (Hepatite B) é resistente (pode seguir infeccioso por ≥7 dias). Por isso a higiene continua crucial.
Materiais body-safe (o que a Climaxxx usa)
Trabalhamos apenas com materiais não porosos e estáveis, fáceis de limpar:
(da esquerda para a direita: vidro borossilicato, silicone e aço inox).
- Silicone de grau médico (ensaios de biocompatibilidade, ISO 10993)
- ABS rígido
- Aço inox 316/316L
- Vidro borossilicato
Esse padrão reduz acúmulo de resíduos e facilita protocolos de higienização pós-uso.
Materiais a evitar (e por quê)
Atenção com materiais que podem ser porosos e/ou conter aditivos em produtos baratos, dificultando a desinfecção e aumentando a retenção de resíduos:
(Jelly: o material mais inseguro de todos)
- “Jelly” / PVC macio (geralmente com plastificantes)
- TPE/TPR (elastômeros porosos)
Se optar por usar, prefira barreira quando houver compartilhamento e evite troca de orifício sem troca completa.
Por que o jelly é inseguro para o corpo?
O “jelly” é um material feito geralmente de PVC (policloreto de vinila) misturado com plastificantes (como ftalatos) para deixá-lo mole e flexível. O problema é que esses plastificantes não ficam estáveis no material: eles podem se desprender com o tempo e migrar para o corpo durante o uso. Isso representa riscos sérios:
-
Toxicidade química: muitos ftalatos presentes no jelly estão associados a efeitos no sistema endócrino, fertilidade e até maior risco de câncer segundo estudos toxicológicos (ex.: CDC, 2005; European Chemicals Agency).
-
Alergias e irritações: o jelly pode liberar cheiros fortes (característico de plástico) e causar reações alérgicas, irritação vaginal/anal ou dermatite.
-
Porosidade: o jelly é um material poroso, ou seja, tem microfuros onde bactérias e fungos se acumulam mesmo após a higienização. Isso aumenta muito o risco de infecções vaginais, urinárias e anais.
-
Degradação rápida: com o uso, o material tende a ficar pegajoso, opaco ou com rachaduras, liberando ainda mais substâncias nocivas.
Lubrificantes: aliados da segurança
- Com camisinha de látex, use lubes à base de água ou silicone.
- Óleo degrada o látex — não use.
- Em anal, use muito lubrificante para reduzir fissuras e quebra de camisinha.
- Evite N-9 (nonoxinol-9) — pode irritar e não previne IST.
Higiene que funciona
- Lave com água morna + sabão entre pessoas e entre orifícios.
- Troque a camisinha/capa do toy a cada pessoa e a cada orifício.
- Em eletrônicos, use pano úmido e evite imersão.
- Vacinas em dia (hepatite A/B) e testagem regular ajudam a mitigar riscos que não dependem só de higiene.
Dedos x toys: paralelo honesto
Dedos têm risco baixo, mas não zero: podem transportar secreções entre orifícios e causar microlesões se as unhas estiverem longas. Boas práticas: mãos limpas, unhas curtas, considerar luva/finger cot e trocar ao mudar de orifício/parceire.
Checklist Climaxxx (salva-vidas rápido)
- Camisinha no toy e troca a cada pessoa/orifício.
- Água + sabão entre usos; tempo + secagem ajudam a reduzir viabilidade.
- Anal = mais sensível → muito lube + camisinha do começo ao fim.
- Evite rota ânus → vagina sem troca completa.
- Se houver sangue/feridinhas/menstruação, redobre barreira — ou não compartilhe.
- Leia o guia completo no blog: Guia Climaxxx.
FAQ
HIV passa por sex toy?
Com toy limpo e/ou com camisinha, o risco é muito baixo. O maior risco está no sexo sem camisinha, especialmente o anal.
“Se muitos vírus morrem em 24h, posso relaxar?”
Depende do patógeno. HIV perde viabilidade rápido; HSV pode durar horas; HPV já foi detectado em toys até 24h (detecção ≠ infectividade); HBV é o mais resistente (pode ficar infeccioso por ≥7 dias). Higienize sempre e use barreira ao compartilhar.
Posso usar óleo como lubrificante com látex?
Não. Óleo degrada o látex e aumenta risco de ruptura. Prefira lubes à base de água ou silicone.
Referências
- Patel P, et al. AIDS (2014) — estimativas de risco por ato (anal > vaginal).
- CDC — HIV não sobrevive bem fora do corpo; sexo anal tem risco mais alto sem barreira.
- NHS / Planned Parenthood — lavar entre usos e trocar camisinha em sex toys.
- Anderson TA, et al. (2014) — HPV detectado em vibradores pós-uso e até 24h.
- Nerurkar LS, et al. JAMA (1983) — sobrevida do HSV em superfícies/água.
- CDC — HBV pode seguir infeccioso por ≥7 dias em superfícies.
- CDC / WHO / UNFPA — lubrificantes seguros; N-9 não recomendado; evitar óleo com látex.
- Relatórios regulatórios e revisões — porosidade e aditivos em jelly/PVC macio e TPE/TPR.
Deixar comentário
Este site é protegido por hCaptcha e a Política de privacidade e os Termos de serviço do hCaptcha se aplicam.