Massagem, orgasmo e a desgenitalização do prazer
Formas mais abrangentes e completas de explorar o corpo
Toques sutis no corpo, com fluidez e presença. Arrepios na pele conforme esse toque vai percorrendo nossas linhas e curvas. O corpo que vai relaxando, sentindo, abrindo espaço para estar entregue - apenas curtindo o momento de todas as formas possíveis.
A massagem é uma prática incrível para relaxar e potencializar prazeres, orgasmos e nos tirar a tensão dos dias.
E seja para trocar com a sua parceria ou para fazer com uma pessoa profissional na área, ela nos leva para o espaço do sentir, tão pouco explorado na nossa sociedade.
Primeiro de tudo: conexão consigo ou com o outre
A massagem é, antes de tudo, uma forma de conectar-se - seja com você mesme ou com uma companhia. Através do relaxamento e das sensações que ela pode nos proporcionar, cada pessoa experimenta de forma diferente os efeitos desse toque no corpo. Existem diferentes tipos de massagem para experimentarmos, e somente assim - experimentando - é que podemos descobrir quais nos tocam mais.
Conversamos com Dayana Almeida, psicóloga, terapeuta orgástica e mestra em Educação Sexual (UNESP) e ela nos explica que “Por vivermos em uma sociedade que legitima muito o estar na mente, a gente acaba se desconectando do corpo e das sensações. Ninguém diz pra gente: o que você está sentindo? E a gente acaba exercitando só o lugar do mental. E a massagem vai ao encontro desse lugar do sentir, do perceber.”
E você, tem se permitido sentir?
Quanto tempo deve durar uma massagem?
A gente sabe que é comum que queiramos respostas prontas sobre tudo, como, por exemplo, qual o tempo ideal pra gente relaxar em uma massagem. Lamentamos, mas não temos essa resposta! Dayana esclarece que cada pessoa tem um tempo de estímulo diferente e complementa: “Depende do grau de proximidade que a pessoa tem com o corpo. Quem é mais mental costuma levar um pouco mais de tempo, afinal, nós temos ainda que ensinar para o corpo que temos braço, perna, pé, vamos levando a atenção para essas partes e aos poucos o corpo vai respondendo mais ao toque e as sensações.”
Isso significa que quanto mais você exercitar a sua entrega durante a massagem, mais seu corpo se permite sentir e sair do estado mental sem relaxamento. O legal é que a gente pode pensar a massagem sim como uma preliminar, porque ela vai aquecer o nosso corpo e colocar ele em um estado de permissão, podendo até nos deixar na vontade. Então, a dica que fica é: exercite e descubra qual o tempo de estímulo ideal para você!
Massagem não precisa de “finalização” - pasme!
A massagem é um fim por si mesma, ela não é o meio para nos levar a algum lugar - a um orgasmo, a uma masturbação no genital, ao sexo, à penetração, nada disso. A massagem é apenas isso: uma massagem. É claro que a partir dela podemos ter sensações diferentes e querer encaminhar de alguma outra forma, mas é preciso lembrar que esse nunca é seu objetivo. Dayana Almeida frisa que “O objetivo da massagem não é ter orgasmo. A ideia é justamente de ampliar a sensação de corpo, de cuidado, de prazer. Levar para a sensação e explorar elas. Pode ser que a partir da sensibilidade a pessoa venha a ter um orgasmo, mas não é o objetivo final.”
É importante lembrar que no caso de estar fazendo massagem com uma pessoa profissional, também não há finalizações de nenhum tipo - masturbação, oral, penetração! Não desrespeite a pessoa profissional a questionando sobre isso, e também saiba que no caso de a pessoa insinuar algo nesse sentido será necessário um bom não - e quem sabe uma boa denúncia? A gente sabe que esse tipo de profissional existe sim, mas a maior parte de massagistas corporais tá ali pra massagear seu corpo, e não seus genitais.
Massagem Orgástica, você conhece?
Uma das massagens mais deliciosas para quem busca se conectar com o seu corpo é a Massagem Orgástica. Apesar do nome, ela não é necessariamente uma massagem com orgasmo, não tem esse intuito e obrigatoriedade, por mais que seja uma possibilidade.
Dayana nos explica que “A Massagem Orgástica é um processo de desenvolvimento corporal, uma forma de a gente ensinar pro corpo outras possibilidades para além do que a gente está acostumada a sentir”, e relembra que como não temos uma educação em sexualidade - já que ninguém nos fala o que é sexo, o que é corpo, o que é afeto - o referencial de sexo que acabamos aprendendo geralmente é através do pornô, que é totalmente focado no genital.
Com isso, passamos a acreditar que sexo é aquilo que vimos no pornô e, como não queremos fazer errado, focamos também no genital, na penetração. “Mas a Terapia Orgástica tira esse foco do genital e nos reeduca nesse sentido. A primeira etapa da parte corporal é estimular a pele, que é nosso maior órgão - e através do toque sutil, sem força. Pode ser que dê arrepios, tremidas, espasmos, e cada pessoa vai percebendo onde é mais sensível no seu corpo.”
Ela ainda complementa que “Depois do toque na pele tem o toque genital também, com luvas, óleo e vibrador para movimentar a energia. Nela nós fazemos manobras não masturbatórias, para ampliar o repertório de prazer”, e finaliza comentando sobre a importância da respiração durante o processo, frisando que “ela está intimamente ligada com o que a gente está sentindo, e é importante dar espaço para esse lugar de sentir.”
Além disso, Dayana frisa que “Na terapia orgástica a gente aprende a ter o orgasmo de corpo inteiro - que chamamos de estado orgástico. E isso não necessariamente significa que vai ter um orgasmo, mas esse estado de prazer que sente de corpo inteiro, e não numa região determinada do corpo. Quando a gente tem esse lugar de sentir no corpo como um todo é muito mais potente e prazeroso.”
Gozo que vem do contato da pele
Como nos disse Dayana anteriormente, a pele é o nosso maior órgão, e do contato pele com pele podemos vivenciar muitas sensações e muitos prazeres. E são muitas possibilidades de estímulo: com toys, na ponta dos dedos, perna com perna e tantas outras formas para experimentar e descobrir. É possível gozar no contato pele com pele, sem estimulação nos genitais, como fomos tão acostumados a descobrir o prazer.
Experimentar o prazer com o seu corpo todo é o convite que deixamos com esse texto. Massagem e Orgasmo foi o tema mais votado pelo nosso público para falarmos nesse mês, e acreditamos que não a toa - precisamos urgentemente ampliar nosso repertório de prazer, e a massagem é uma ferramenta incrível para isso. Com o poder de nos relaxar, de potencializar prazeres e orgasmos, de salvar quem está tensa a ponto de sequer conseguir se permitir ao prazer - bem como descobrir novos espaços do prazer e chegar a sensações totalmente novas.
Texto de Bárbara Silva Viacava
Sobre a entrevistada: Dayana Almeida é psicóloga, terapeuta orgástica, mestra em Educação Sexual (UNESP) e pesquisadora nas temáticas de sexualidade e prazer de corpos ovariados (mulheres cisgêneras, homens trans e pessoas não-binária ovariadas).
É fundadora da Vulvárias, onde desenvolve materiais educativos em sexualidade, focado nas corporeidades ovariadas e faz atendimentos com a Terapia Orgástica em SP e BH.
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