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Consentimento, assédio, intuição e reciprocidade

Consentimento, assédio, intuição e reciprocidade

Do "não é não" aos mapas de consentimento.

Com tantos temas e assuntos relacionados às delícias da sexualidade e aos prazeres de explorar o nosso próprio corpo, acabamos por vezes deixando de lado outras pautas importantíssimas e sérias, como assédio e consentimento. Você já se perguntou o que é assédio? Quais as camadas que esse tema complexo têm? Desde o assédio sexual ao assédio moral, passando por agressões físicas, xingamentos, intimidações, humilhações e até mesmo piadas ofensivas. Todos esses aspectos - e mais - são considerados assédio. E precisamos falar sobre isso cada vez mais, com nossas amigas, amigos, amigues, tanto no viés de se proteger de assédios, como no viés de não cometer assédios - ninguém está totalmente livre, viu?

Sexo consensual é o mínimo, mas precisamos também lembrar que consentimento é base para qualquer outro aspecto da vida, não só o sexual.

Cultura do “não” como “sim”

O consentimento e o abuso são mais delicados e complexos quanto parecem. A começar pela nossa cultura, que educou as mulheres para “se fazer de difícil”, e os homens para “insistir e ir atrás”, cada qual nos seus papéis de gênero como a sociedade ensinou. Essa educação trouxe muitos, mais muitos problemas para todas as pessoas - para as mulheres que são extremamente desrespeitadas e violadas, para os homens que são abusivos culturalmente, e para toda a comunidade LGBTQIAPN+, que também sofrem assédios de diversas camadas, desde preconceito de gênero até violências físicas e sexuais.

Ainda sobre essa educação, mulheres são ensinadas a falar que “não” mesmo quando gostariam de dizer que “sim”, e a falar "não" também quando não querem. E dessa forma não aprendemos sequer a ter clareza de expressar o que realmente sentimos - um desafio também de toda a sociedade dos joguinhos e subentendidos que ficam no ar.

O podcast Meu Inconsciente Coletivo trouxe um episódio chamado “Sim, não e assédio”, que aborda muitas camadas desse tema. Recomendamos que escutem. Algo muito especial trazido no episódio diz respeito à nossa atenção à intuição e à reciprocidade em relação a nós e ao outro. Por vezes nosso corpo pode achar que tem desejo de fazer algo que a mente diz que não. Nesse caso é importante ouvir sua intuição e ver se são travas mentais que estão bloqueando a gente de fazer algo que a gente realmente quer ou se é preciso ouvir a mente e respeitar uma decisão já tomada e não fazer algo que nos fará mal e que no fundo não queremos.

Outro ponto é utilizar a intuição em seu nível mais sensível em relação ao outro. Olhar nos olhos da outra pessoa e, caso se veja que há uma dúvida ou qualquer tipo de sinal de "não", dialogar com o outro, perguntar e, obviamente, respeitar caso haja um "não" ou alguma possibilidade de dano à outra pessoa. Entender que às vezes ela pode estar dando sinais de "sim" até certo ponto, mas não queira passar de certos níveis de relação. Reciprocidade e leveza são, em geral os melhores sinais de uma boa relação. Ultrapassar os limites de outra pessoa ou tomar vantagem de uma posição superior, é assédio.

Reconhecer assédios e nomeá-los

O que é assédio? Na teoria muita gente sabe, mas ao ir para a prática, nos momentos que o assédio acontece, muitas vezes acaba passando batido e até mesmo disfarçado. Reconhecer os assédios e aprender a nomeá-los é um passo muito importante. Também entender eles nas práticas do dia a dia, para que quando aconteça um princípio dele, já seja cortado pelas raízes.

Culturalmente somos uma sociedade que culpa muito as vítimas e por isso é também muito difícil assumir (até para si mesma) quando você passou por uma situação de assédio de todos os níveis e até mesmo de abuso sexual - sim, o abuso sexual também tem muitas camadas a serem exploradas e muitas pessoas são abusadas sexualmente sem entenderem isso.

Vamos dar nomes aos assédios e exemplos para ficar mais claro? Os principais tipos de assédio são eles:

Assédio moral: é toda ação que possa perturbar ou constranger outra pessoa, seja afetando a sua dignidade, criando um ambiente intimidativo, hostil, degradante, humilhante ou desestabilizador.

Como saber que vivi um assédio moral? Quando passar por uma situação de coerção, situações onde se sente constrangida (com aquela pessoa ou frente a outras pessoas), ou intimidada de qualquer forma a fazer algo que não concorda.

Assédio sexual: Considerado crime pelo Artigo 216-A do Código Penal, o assédio sexual é denominado como “constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função”. E apesar de a lei trazer mais os aspectos referentes ao trabalho, sabemos que essas condições “hierárquicas” se dão também frente a situações de gênero na nossa sociedade patriarcal.

Stalking: Apesar de ser um termo usado como brincadeira nas redes sociais, é uma realidade também de abuso para muitas pessoas. O stalker é uma pessoa obsessiva que persegue e invade a privacidade da vítima reiteradamente, tanto em espaços físicos como virtuais. É um tipo de abuso que também é extremamente prejudicial para quem o sofre, pois a pessoa se vê em constante medo de exercer a sua liberdade e sofrer com alguma das ameaças trazidas pelo stalker.

A pessoa que sofre com o stalking pode sentir medo de sair na rua, constantes pensamentos sobre estar sendo observada ou não, e pode até mesmo deixar de sair e fazer coisas que gostaria por causa dessas ameaças - mesmo que elas não sejam tão constantes.

Assédio virtual -  ou cyberbullying: Importunar, intimidar, perseguir, ofender ou hostilizar uma pessoa pela internet são considerados assédio virtual - ou seja, qualquer “simples” comentário que tenha esse viés de hostilização ou intimidação, independente de a pessoa fazer esses comentários com frequência ou não!

Bullying: São mais discutidos nos ambientes escolares, mas também acontecem no trabalho e nos espaços online e acontecem através de repetidos atos de discriminação com uma pessoa específica, a humilhando publicamente.

*Nota da editoria: se você reconheceu que viveu uma situação de assédio ou abuso, acolha você mesme, não se culpe. Entenda como processar esse momento da melhor forma para você, se valorizando sempre para ter suas forças para se reconstituir e seguir em frente (no seu tempo!) - É recomendável também que você busque suporte em terapia para conversar sem medo sobre o que sente. Sua rede de apoio também pode ajudar muito nesse momento, então se sinta livre para pedir ajuda para as pessoas com quem você se sente confortável.

Mapas de consentimento e BDSM

Mas é claro que no momento íntimo do casal, muitos gostam de ter momentos não apenas carinhosos, mas considerados mais fortes, como momentos de submissão onde se faz aquilo que o outro deseja. E isso nos leva a um local de lembrar da importância de firmar com a sua parceria o que é que você gosta e não gosta antes de começarem as brincadeiras sexuais - pois qualquer ato não consensual, sinaliza um abuso.

Como você pode fazer isso? Trazemos algumas opções.

Combinados prévios para BDSM: para que a prática de BDSM seja segura e divertida para todos é preciso que vocês conversem e tenham alguns combinados prévios, como a famosa palavra-chave para parar. Mas além disso, há toda uma sorte de combinados que podem ser facilitados com o uso dos mapas ou listas de consentimento. 

Mapas de Consentimento: é um local onde você e as pessoas envolvidas vão sinalizar aquilo que gostam, onde gostam, e como não gostam também. Pode ser feito de forma livre e intuitiva, o importante é ter essa clareza, para não ultrapassar os limites de ninguém. Caso você não saiba se gosta de algo ou não e esteja aberto a experienciar, sinalize isso também.

Aplicativos: Também existem aplicativos para que os casais possam brincar de explorar essas práticas, se inspirando nas sugestões do app e sinalizando o que gostam e não gostam de fazer, como o aplicativo XConfessions App, criado por Erika Lust, a famosa diretora de filmes pornôs feministas. Como o nome indica, é um app que sinaliza os consentimentos que você dá a outra pessoa e àqueles que não dá. Perfeito para jogar com seu(s) parceiro(s) e aumentar sua intimidade, além de alcançar um nível mais profundo de conexão.

Não cometer assédios - eu, assediador?

Mas bem, se todos, todas e todes nós já sofremos algum tipo de assédio em algum nível, onde estão então essas pessoas tão más que o cometem?

Sim, precisamos trazer aqui que provavelmente você já foi uma pessoa abusiva com alguém - e eu, tu, eles, todes nós. E pode já ter cometido assédios em alguns níveis, dos mais "leves" aos mais graves.

Então propomos aqui que você faça dois exercícios para se vigiar no dia a dia e não ser essa pessoa. Primeiro, escute com atenção o que o outre te diz. Escute, veja, perceba com presença aquele ser na sua frente. Se ela te diz um "não", respeite esse limite - é o básico. E o segundo é se comunicar com as pessoas de forma a ser honesta, mas sem magoar - principalmente em ambientes de trabalho e amizades. Estudar a forma de se comunicar é uma forma bonita e justa de não magoar quem convive contigo.

Vamos juntes?

Bem, tendo passado por todas essas camadas do assédio e consentimento, ficamos com a mensagem firme de que: não é não. E que essa seja sempre a nossa maior bandeira. Que nos apoiemos umas nas outras, pedindo ajuda quando for preciso. Sendo firmes, colocando limites e percebendo nossa intuição, pensamentos, desejos e decisões.

Escrito por Bárbara Silva Viacava

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